010/366 – Não esqueça a minha Caloi


Primeira bicicleta de marcha a ser produzida no Brasil a partir do ano de 1972, a “Caloi 10” é uma bicicleta própria para corrida, mas que ficou popular entre o público em geral. Na segunda metade dos anos 80 eu comprei uma “Caloi 10” de segunda mão, para ir da Lapa onde morava, até o trabalho no Largo do Machado.

Essa é a décima crônica e sinto que estou fazendo alguma coisa aqui, ainda não sei bem o que, mas sinto que estou fazendo algo. Ano passado, com projeto semelhante, sofri ao perceber que não chegaria nem perto das 365 crônicas que pretendia. Mas este ano estou tranquilo, mesmo sabendo que não vou conseguir escrever as 366 crônicas deste ano bissexto.

Acabou que a “Caloi 10” ficou lá, encostada num canto. Então decidi levá-la para a casa da minha mãe. Até aí tudo bem, não fosse o fato de minha mãe morar em Santa Cruz, bairro da Zona Oeste do Rio, distante cerca de 60 quilômetros do Centro do Rio, onde eu morava, e o pior, eu decidi levar a bike pedalando. E num dia de folga no trabalho encarrei essa empreitada. Primeiro erro: fazer aquilo; segundo erro: sem nenhum preparo físico; terceiro erro: pensei, vou dar o máximo no começo, só que era uma prova de resistência, não de velocidade. Naquele dia senti cãibra em todos os músculos do meu ser. Morri na praia, fiquei no bairro do Mendanha, depois de pedalar cerca de uns 50 quilômetros, na casa da minha segunda mãe, Joselita Andrade.

Embora eu tenha ainda um ano inteirinho pela frente, a coisa parece estar indo bem, devo chegar a umas 12 crônicas só no primeiro mês do ano. Por que e para quem se escreve? Escrever é como lançar ao mar uma garrafa com uma carta dentro. Como disse Lispector, preciso escrever, porque escrever salva. Salva a quem? Ao autor, claro, e a um ou outro leitor. Salva do quê? Salva ao escritor e ao leitor de si mesmos.

Não, não morri na praia, precisei só de outro dia de folga no trabalho para chegar com minha bicicleta na casa da minha mãe. Você é otimista demais, me disse dia destes a minha esposa. Não, não morri na praia. Não sei quantas pedaladas dei naquele dia. Não sei quantas crônicas escreverei no ano, mas como dizia aquele filósofo global, pedala Rotinho, pedala.

Rotsen Alves Pereira
Janeiro de 2023

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