Postagens

Mostrando postagens de janeiro, 2024

011/366 – Memórias crônicas

Dia destes estava me perguntando se o que escrevo são realmente crônicas. Ana Paula Ibrain me fez ver o que podem ser, memórias. Sim, meus textos têm muito de memórias. Mas sendo eles crônicas ou não, não é uma coisa que me tire o sono, é só que quem escreve vive a se questionar. Preocupações com títulos, gêneros literários, se o que faz é literatura ou pelo menos algum tipo de arte. O texto de hoje só tem de bom o título, “Memórias crônicas”. Pode vir a ser o título quando eu reunir minhas crônicas em um livro. Outro título bom para a reunião de meus textos é “Crônico”, ambos inspirados em minhas conversas com a amiga Ana Paula Ibrain . Em latim existia a palavra “chronica”, para designar o gênero que fazia o registro cronológico dos acontecimentos históricos, sem aprofundamento ou interpretação. Na mitologia grega temos Cronos, deus do tempo. Talvez o que eu escreva sejam só reminiscências, mas isto não é importante, não o suficiente para que eu fique aqui esquentando meus cornos. Ro

010/366 – Não esqueça a minha Caloi

Primeira bicicleta de marcha a ser produzida no Brasil a partir do ano de 1972, a “Caloi 10” é uma bicicleta própria para corrida, mas que ficou popular entre o público em geral. Na segunda metade dos anos 80 eu comprei uma “Caloi 10” de segunda mão, para ir da Lapa onde morava, até o trabalho no Largo do Machado. Essa é a décima crônica e sinto que estou fazendo alguma coisa aqui, ainda não sei bem o que, mas sinto que estou fazendo algo. Ano passado, com projeto semelhante, sofri ao perceber que não chegaria nem perto das 365 crônicas que pretendia. Mas este ano estou tranquilo, mesmo sabendo que não vou conseguir escrever as 366 crônicas deste ano bissexto. Acabou que a “Caloi 10” ficou lá, encostada num canto. Então decidi levá-la para a casa da minha mãe. Até aí tudo bem, não fosse o fato de minha mãe morar em Santa Cruz, bairro da Zona Oeste do Rio, distante cerca de 60 quilômetros do Centro do Rio, onde eu morava, e o pior, eu decidi levar a bike pedalando. E num dia de folga n

009/366 - Monareta

Só dinossauros como eu vão saber o que é uma Monareta. Monareta é uma bicicleta. Meu sonho de consumo no final dos anos 70. Naquela época, Sebastian Araujo , meu irmão mais velho, trabalhava numa oficina de bicicleta e ia para casa com uma bicicleta pequena que pertencia ao trabalho dele. Eu acordava todo dia bem cedo, antes de ele ir trabalhar, só para poder aprender a andar de bicicleta. Por que me veio esta lembrança? Porque minha filha, Eduarda Sousa , está me visitando, e eu a ensinando a andar de moto num cacareco barulhento que tenho aqui, mas é automática, é só acelerar e frear. Tenho um irmão, o caçula dos homens, o Criolo, como eu o batizei, que não sabe andar de bicicleta, estranho isto, alguém que não saber andar de bicicleta. Já eu, tanto madrugava para aprender, quanto desejava com todas minhas forças ter uma Monareta. Era tão grande o meu desejo, que uma noite sonhei que tinha uma bicicleta. Naquele dia acordei procurando meu sonho. Rotsen Alves Pereira Janeiro de 2023 #

008/366 - O pequeno príncipe

Estou envelhecendo. Estou envelhecendo e chegou o momento que eu tanto temia, aquele em que a esposa, que sempre trabalhou fora, decide ter um cachorro. Eu não queria ser um velho passeando com um cachorro. É, porque minha esposa é igual criança, arruma seus brinquedos, mas no final sobra para eu cuidar. Ainda bem que não é um poodle zero, seria muita viadagem eu levar para passear um poodle. Não que eu não seja viado, mas até a homossexualidade tem limites. Ele é sagitariano, vira-lata de pouco mais de 40 dias, nascido em 07 de dezembro do ano passado, de pelo marrom, tons de preto na cauda e nas orelhas. Existem cem mil vira-latas como ele e eu. Nem eu e nem ele temos necessidade um do outro. Mas ele há de me cativar, então, ele será único para mim e eu único para ele. Tudo isto é muito bonito, um filhote de cachorro, o livro de Saint-Exupéry. Realmente, tudo isto é muito bonito, quando visto de fora e no início. Mas o cachorro vai crescer, vai latir em horas impróprias, vai fazer co

007/366 – O arauto do Senhor

Minhas crônicas, vez por outra, são uma declaração de amor a um amigo, seja próximo, só conhecido ou virtual. Sempre espero que elas sejam uma declaração de amor àqueles que as leiam, não por que eu seja um 'São Francisco de Assis', mas é que eu nasci crônico de amor e, está para além de mim o que me leva a apontar minha pena para este ou aquele amor. O México do Segundo Império teve seu Maximiliano I. O Sacro Império Romano-Germânico também teve seu Maximiliano I. O cinema tem seu Maximilian Schell. Mas só os itapetinenses têm Max Heliano Estevam de Araújo. Gosto de chegar no Mercadinho Estevam e chamar alto e forte, Max! Como um grito. A boca de Max saliva, pelo prazer de regurgitar as palavras. E elas saem molhadas, macias e firmes. Arauto do Amor, ele as usa sem medo ou vergonha, com sua voz potente. Sempre achei um exagero a alcunha que leva a nossa cidade, “Itapetim - Ventre imortal da poesia”, mas aos poucos vou me rendendo. Rotsen Alves Pereira Janeiro de 2023 #366cro

006/366 – Menarca

Talvez alguns não saibam, mas menarca é o feminino de monarca. E monarca todos sabemos o que significa. Não, não é, menarca não é o feminino de monarca. Esta palavra cruzou meu caminho há muito tempo, numa época em que eu consultava dicionários, atraído primeiro pela sonoridade das palavras, sua semelhança com outras e seus significados totalmente distintos. A IA do Whatsapp me diz que: “Menarca é o termo que se utiliza para descrever a primeira menstruação de uma mulher. (...) É uma fase importante na vida de uma mulher, marcando o início da sua fertilidade”. E acrescenta: “Se tiver mais perguntas ou precisar de mais detalhes, estou aqui para ajudar!”. Eu aproveito, e o que significa monarca? “Monarca é um termo que se refere ao chefe supremo de um Estado monárquico, pode ser um rei, imperador ou sultão”. Domingo tive minha primeira menstruação. Não foi a primeira, claro, afinal sou um homem de 55 anos e já menstruei antes, mas esta foi "a monarca". Três dias mijando pelo co

48/365 – Maria Clara

Maria Clara é uma menina de cinco anos. Mora uma casa depois da nossa. Criada sem frescuras, ela anda descalça, só de fralda e chupeta. Ao sol, brinca na rua com os dois irmãos mais velhos. Este mês fizemos um ano morando aqui. Depois de herdar de minha esposa duas bonecas, Maria Clara resolveu povoar nossa casa. Maria Clara “nasceu” para nós neste Natal, renovando não o espírito do Natal, mas nossos espíritos. Esta semana ela tem vindo todas as tardes. Aqui em casa ela come biscoitos, desenha a mim e a minha esposa com aqueles traços de uma criança de cinco anos, vê desenhos do Youtube, os tais dos Elementos. Na hora de ir para casa, reclama, se esconde, argumenta. Nos tornarmos seus tios, ela nos toma a benção e alegra os tios da minha esposa com os quais moramos e a quem ela chama de vovô e vovó. Fiquei pensando, e se a virgem Maria tivesse concebido uma menina ao invés do menino Jesus? Bem, é um excelente argumento para uma nova história da humanidade, que agora não me sinto capaz

005/366 – Primeiro livro das Crônicas

Vou ao livro de Crônicas em busca de uma crônica, assim como quem vai ao livro dos Salmos vai em busca de um salmo. Quando digo que vou em busca, quero dizer, na esperança de encontrar lá uma que me sirva ou agrade e eu possa postar aqui como se minha fosse. Encontro lá um palavrão na minha bíblia católica: "1⁰ Livro de Crônicas ou paralipômenos". Paralipômenos significa “coisas omitidas”, geralmente usada para se referir a algo que foi omitido ou deixado de fora de um relato, texto ou registro. Eu, na minha infância e adolescência, era um devorador de livros. Gibis, bolsilivros de espionagem e faroeste, romances das séries Sabrina e Júlia, devo ter lido clássicos também, já que no último ano do ensino fundamental li tudo que tinha de ficção na biblioteca da minha escola. Apesar de frequentar nesta mesma época a igreja Adventista do Sétimo Dia, levado por uns conterrâneos de minha mãe, nunca li as escrituras sagradas por inteiro. A escola dominical me incutiu muitas passagens

004/366 – A guerra dos Rosas

Na minha primeira postagem de 2024, a primeira do projeto “ #366cronicas ”, prometi lançar um texto por dia nestes 366 dias no ano. Uma das características da crônica e ter “vida breve”, característica que também pode ter o cronista, dependendo do que diga em seus textos. Ora, logo na primeira crônica eu a finalizei dizendo, “Minha esposa que lute”, daí porque minha vida pode se tornar breve. Minha esposa,  Nete Sousa , partiu para a luta e na minha terceira postagem fez um comentário e acrescentou um vídeo para comprovar o que dizia. Diz lá que não sou capaz de matar nem uma galinha, que dirá cometer homicídio, como afirmei na terceira postagem. O problema é que aqui no Nordeste se mata galinha quebrando o pescoço, o que realmente requer experiência. Porque matam galinha assim? Para o sangue correr para o pescoço e ele ficar grosso, fica tipo ao molho pardo. Minha esposa do outro lado da mesa da cozinha, celular na mão e sorriso no rosto, digita. Eu, na outra ponta, atrás da trincheir

003/366 - Everybody loves me

“Todo mundo odeia o Chris” é uma popular série televisiva inspirada da infância do humorista e ator Chris Rock. Com raríssimos episódios, Chris só se ferra. Eu achava um exagero alguém só se ferrar, mas depois que o Will Smith deu aquele tapa na cara do Chris Rock em pleno palco da festa do Oscar, tive que reavaliar minha opinião a respeito. Ora, mas se há alguém que só se ferre no mundo, vai ter outro para quem tudo dá certo. Este é o argumento do filme “Unbreakable”, com Bruce Willis e Samuel L. Jackson, aqui ganhou o título de “Corpo Fechado”. No filme, este aspecto de sorte e azar é em relação a seus corpos, um é extremamente frágil e o outro passa ileso por qualquer catástrofe. Eu sou o cara amado por todos e para quem tudo dá certo. Aos 55 anos completos, nunca briguei na vida, nem quando moleque, nem com os irmãos. Well, tentei cometer um homicídio uma vez, afinal, ninguém é de ferro. Rotinho da mamãe, usado por meus irmãos para me zoarem. Rotinho da Malu Morenah , usado por el

002/366 – Todas as mulheres do mundo

Em minha crônica anterior eu disse, “minha esposa que lute”. Esta expressão, fulano que lute, é uma maneira suave de dizer, foda-se, vire-se. No entanto, quem conhece a mim e a minha esposa sabe que se tem alguém aqui que tem que lutar, esse alguém sou eu. Parte do meu harém se manifestou ao ler minha primeira crônica do ano, Ana Paula Ibrain me chamou de “Cabra do saco roxo”, mas ela acertou mesmo foi quando disse, “Você enlouqueceu!”. Teresa Santos diz que gostou da última parte, acho que ela queria dizer, não quero nem ver o que a Nete Sousa vai fazer com ele. Eduarda Sousa , minha filha, recomenda que eu tenha equilíbrio e reveja se tenho sido um bom marido. Mary Ribeiro diz, Nete, santa mulher. É verdade, para me aturar é preciso ser uma santa. Me ver o dia inteiro no computador sem fazer porra nenhuma, vendo a lista de tarefas que ela me passa só aumentando. Trazer adubo e terra para as plantas, colher manga, fazer um ninho para as calopsitas, plantar um pé de acerola e tam

001/366 – Primeir@ de Janeiro

Como eu disse em uma crônica postada no Facebook ano passado, em 2024 vou fazer tudo como não deveria fazer. A primeira coisa é estabelecer que este ano escreverei e postarei aqui 366 crônicas. Alguém vai repetir, é muita coisa, uma crônica por dia. É verdade, escrever uma crônica por dia é um megaprojeto. Ao mesmo tempo, quero concluir a escrita das crônicas que faltam para completar o projeto do ano passado, o  #365cronicas . Mas então que nome darei ao projeto deste ano? O ano bissexto veio me salvar, e esta é a primeira crônica do projeto  #366cronicas . 366 deste ano com mais ou menos 300 que faltam do ano passado, é, em 2024 só tenho que escrever duas ou mais crônicas por dia, megalomania. Bem, a Mega Sena da virada e nenhuma outra saiu para mim até hoje, mas as crônicas só dependem de mim. É ser otimista demais, pular das mais ou menos 50 crônicas escritas ano passado para quase 700 este ano. É quase como querer acertar na loteria. Otimista? Não, o que eu sou mesmo é sem noção.