The best of Itapetim
A minha pequena Itapetim, no sertão de Pernambuco, está em rebuliço por conta da lista dos “mais besta” do município. Duas listas, de autoria anônima, divididas por gênero, com quase oitenta nomes cada, circulam nas redes sociais, e, em plenas festas juninas, alguns daqueles que tiveram seus nomes listados querem malhar o Judas, quero dizer, o autor, coisa que só se faz na Quaresma. A lista não poupou ninguém, de cantor mirim com repertório ‘sertanejo', até aqueles que ficam besta quando bebem e outros que são bestas sóbrios, se estendendo a algumas figuras do município vizinho, São José do Egito. Nem os falecidos escaparam.
A lista de Itapetim ganhou status de seleção brasileira de futebol, há críticas a nomes escolhidos e sugestões de nomes que deveriam ser convocados. Entre risos dos que ficaram de fora, indignação dos que foram chamados, não se fala em outra coisa na cidade. Itapetim, ventre imortal da poesia. Onde todos se tratam por poeta. Onde há a tradição, uma brincadeira, de chamar o outro pelo nome de um terceiro, como se fosse uma ofensa. E onde uma das primeiras perguntas que se fazem é “o que achas de fulano?” Ao que o outro responde: “É um homem”. Esta Itapetim, gerou a lista dos “mais besta”.
A principal crítica que ouço ao autor da lista é que é um desocupado: “Falta do que fazer!”, o eterno descrédito à arte. Listar cerca de cento e cinquenta nomes dá trabalho. Selecionar os que são bestas requer observação e convívio. O autor da lista só pecou por, após a repercussão da lista dos “mais besta”, ter criado a lista dos cornos. Assunto mais delicado do que ser besta, já resultou até em Boletim de Ocorrência na delegacia local.
Mas o que é ser besta? Segundo Gemini, a IA do Google, ser besta é: “a pessoa que se acha superior aos outros, que se gaba ou que tenta parecer algo que não é. É alguém que ‘se dá ares', que tem um comportamento presunçoso”. Sempre fizemos listas classificatórias ou listas do que fazer. Uma das primeiras foi ditada por Deus a Moisés, tão antiga quanto desobedecida. Todos nós temos nossa lista “dos besta", mas declará-la publicamente requer coragem, quero dizer, anonimato.
Rotsen Alves Pereira
Junho de 2025
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