016/366 - Intervenção bacana

Crônica escrita a partir da imagem da faixa branca na borda de uma rodovia, que se desvia de umas folhas de coqueiro. 


Quando vi a imagem, razão desta crônica, numa postagem no Facebook, ‘printei’, ela tinha me intrigado. A foto era acompanhada da seguinte legenda: “A minha função é pintar. A limpeza é trabalho de outro departamento”. Tempo depois fiz um story e substitui a legenda na foto por outra que diz: “Ponha arte em tudo que faça”. Minha esposa disse: “Arte nada, preguiça, preguiça de limpar”.

Pelo que observei há alguns dias aqui na minha Itapetim, essas faixas são feitas por um caminhão, que tem acoplado a ele um bico ejetor que pinta todo tipo de linha no asfalto, brancas, amarelas, vermelhas e azuis. Paralelas, continuas, tracejadas, faixas de trânsito que transmitem regras.

Mas o que terá levado o artista a executar sua obra de arte? Será que a concebeu antes? “O dia que eu encontrar as folhas longas de um coqueiro, dormindo mortas as margens da estrada, não perturbarei seu sono, desviarei meu traço”. Será que foi só reflexo à direção? Pensou que era algo vivo e se desviou. Queria ser demitido daquele emprego monótono? Ou foi mesmo rivalidade entre departamentos? Torço para que tenha sido um rompante de humor. Mas os motivos não importam, e sim o nascimento da obra e as reações a ela. Agora a foto explica a razão do desvio do traço, mas e depois, quando as folhas de palmeira forem varridas para a margem da estrada, o que imaginarão os passantes?

Rotsen Alves Pereira
Maio de 2024

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