Teu nome é Pedro, é sobre ti...


Acho que a primeira coisa que quis ser foi piloto de caça, pelo menos a primeira coisa de que ainda me lembro, a coisa que persistiu até minha maioridade penal. Fui soldado da Aeronáutica e tentei provas para ser sargento de lá.

Sax, saber tocar sax, caralho! Tempo passou. Ganhei de uma atriz uma gaita. Tempo passou.  Numa loja me disseram que era uma boa gaita. Tempo passou. O professor de uma primeira e única aula de gaita também disse que era uma boa gaita, uma Hohner dourada, que dorme dentro do seu estojo preto, numa das gavetas da minha parte do guarda-roupa.

Ter uma banda de blues chamada “Black Bird Blues Band” também conhecida por “Four B” ou “4B”. (Se um dia isso se tornar realidade, esta banda se chamará “Baby Blues Band”, por quê? Porque começo a ser conhecido por Baby). Fazer standup onde brinco sobre a origem do meu nome, ser ator, letrista. Cantor e compositor, sem chance.

Escrever, ser um escritor, ser um dramaturgo, ser um roteirista, contista, cronista, pianista, pianista não, nunca quis ser pianista não. Atirador de elite sim, essa coisa de meninos e armas.

Às vésperas dos cinquenta me pergunto se, a dor de um multiartista não realizado é maior do que a dor de um cobrador de ônibus desempregado, que vê sua atividade ser acumulada pelo motorista. Parece haver um consenso de que a dor do artista é maior do que a dor do manobrista. Isso talvez pela capacidade do poeta de fingir sentir dor, como disse Fernando Pessoa. Já outro poeta disse que no meio do caminho tinha uma pedra.

Teu nome era Simão, e Eu te rebatizei, e agora és Pedro. Teu nome é Pedro, que significa pedra. Eu te digo caminha sobre as águas, mas és pedra, e afunda.

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