Vale o que está escrito

Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa, dia abafado e sem sol. Quarto dia do décimo primeiro mês do ano de dois mil e quinze de nosso Senhor, data do meu aniversário.

Rotsen Alves Pereira. Há 47 anos carrego nome e sobrenome do meu pai. O sobrenome da minha mãe não entrou na composição. Nome é sobrenome foi tudo que o filho da puta do meu pai me deu. Digo filho da puta sem rancor. Até porque tive sorte com o primeiro nome, uns pensam que é árabe, outros que é alemão, isto até conhecerem o etíope aqui. Retornando hoje com minha mãe do médico, descobri que ela também só carrega o sobrenome do pai. Já meu meio-irmão mais velho carrega um "pai desconhecido" grafado em sua certidão.

Vale o que está escrito. É a regra do jogo do bicho. Vale o que está escrito. É a regra dos cartórios, autarquias, departamentos. Escrever é fácil, tanto quanto falar. 

As vésperas de completar meio século de vida - tendo vivido quase metade da vida que terei, já que vou morrer aos cem anos - eu ia dizer que começarei corrigindo meu nome. Mas nem mesmo uma prova corrigimos. Tudo o que o professor faz nela é apontar os erros. Que dirá uma vida passada. 
- Vou corrigir meus erros! Que frase mais estupida.

No instante em que escrevi no paragrafo anterior 'já que vou morrer aos cem anos', me dei conta do que venho dizendo. Vou morrer. Quantas vezes já repeti isto, em tom de brincadeira, estabelecendo o prazo de minha longivibilidade. Todos nós vamos morrer. É a única certeza que cada filho da puta sobre a face da terra tem. Nenhuma certeza sobre céu ou inferno. Nenhuma certeza sobre felicidade ou infelicidade, riqueza ou pobreza. Ah, mas sobre a morte... 

Não há nada a fazer sobre minha morte, mas sim sobre minha vida. E sem que isto seja uma correção ou tenha qualquer outro significado, a partir de hoje, de agora, passo a me chamar, Rotsen Rosa Ribeiro, o Rosa vem da minha esposa, o Ribeiro da minha mãe. 

Assinado, Rotsen Alves Pereira, quero dizer, Rotsen Rosa Ribeiro.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A torre da igreja

Ontem minha mãe morreu

008/366 - O pequeno príncipe