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018/366 - Um homem bi-centenário

Está cada vez mais difícil exercer minha generosidade. Generosidade, esta coisa de dizer a que gênero pertenço. Preenchendo um formulário, por eliminação, me defini como “homem cisgênero”. As outras opções eram: mulher cisgênero, mulher transgênero, homem transgênero, pessoa não binária, não informar e não sei informar. Esta última opção eu que acrescentei.  Não sou contra as ações de afirmação, todo o gênero humano tem o direito de se afirmar como se sente e não ser discriminado por isso. Eu pertenço ao gênero duvidoso, estou sempre em dúvida. Dias desses, minha irmã Joana D´arc,  lendo algo que lhe enviei e pedi que opinasse sobre, me disse que não se usa mais a palavra denegrir com sentido pejorativo. A militância exagera.  LGBTQIAPN+*, esta sigla só cresce, sugiro trocar o + pelo símbolo do infinito. Quando eu era gay, existia também o gênero simpatizante. Por parte dos grupos e instituições, há uma  busca impossível de ser atingida, a de abarcar a todos. Sempre ...

017/366 - Quero ser Arnaldo Antunes

Em 1999 foi lançado o filme “Being John Malkovich”, aqui ganhou o título de: “Quero ser John Malkovich”. Apesar do meu amor por Malkovich, amor que nasceu em “Ligações Perigosas”, e também do meu amor por Cusack, nunca vi o filme. A sinopse do filme diz que o personagem de Cusack descobre uma passagem para a mente de John Malcovich, onde se pode passar 15 minutos vendo o mundo sob a perspetiva do famoso ator. Bem, toda esta lenga-lenga para explicar de onde tirei a ideia e o título da minha crônica. Eu quero ser e sou muitas coisas. Sou o sorriso malicioso e sedutor de canto de boca de Malkovich. Sou o andar malemolente de Denzel. Queria que meu quengo careca fosse bonito como o de Stathan. Sou o sorriso cínico e debochado de Willis. O serpentear de Axl. A cegueira de Ray e os passos de Brown em “Sexmachine”. Sou a homossexualidade da Rainha Freddie e o agudo do Dalto, “Muito estranho”. No poster do filme tem uma pergunta: “Você já quis ser outra pessoa?”. Quem não? Acho que todo mund...

016/366 - Intervenção bacana

Crônica escrita a partir da imagem da faixa branca na borda de uma rodovia, que se desvia de umas folhas de coqueiro.  Quando vi a imagem, razão desta crônica, numa postagem no Facebook, ‘printei’, ela tinha me intrigado. A foto era acompanhada da seguinte legenda: “A minha função é pintar. A limpeza é trabalho de outro departamento”. Tempo depois fiz um story e substitui a legenda na foto por outra que diz: “Ponha arte em tudo que faça”. Minha esposa disse: “Arte nada, preguiça, preguiça de limpar”. Pelo que observei há alguns dias aqui na minha Itapetim, essas faixas são feitas por um caminhão, que tem acoplado a ele um bico ejetor que pinta todo tipo de linha no asfalto, brancas, amarelas, vermelhas e azuis. Paralelas, continuas, tracejadas, faixas de trânsito que transmitem regras. Mas o que terá levado o artista a executar sua obra de arte? Será que a concebeu antes? “O dia que eu encontrar as folhas longas de um coqueiro, dormindo mortas as margens da estrada, não perturba...

015/366 - Eduarda e Vitor

Era uma vez, Maria e João. Eles são duas crianças. Maria tem dois pais e uma mãe. João tem um pai e uma mãe. Não, nesta história não tem madrasta má, mas tem um padrasto mau, esse que vos escreve, mau que nem pica-pau. Maria e João trilharam inúmeros caminhos em busca de doces. Depois de saciados, ou quando se achavam perdidos, retornavam para suas casas. Não sei quando foi que seus caminhos se cruzaram, se numa dessas idas, cheios de certezas, atrás dos doces, ou se foi quando retornavam satisfeitos, ou desapontados, famintos de "comida de verdade". Só sei que foi assim, seus caminhos se cruzaram. João faz UERJ. Maria trabalha em telemarketing. Maria sempre quis ter um cachorro, João tem o Judá, um golden. João anda de moto, Maria fala em tirar a habilitação, e os dois andam de skate na Praça do O. João sabe inglês e espanhol, e Maria Duolingo. Maria tem uma máquina de costura, mas também tem uma Canon ‘profissa’. “E mesmo com tudo diferente, veio o medo de repente, uma vont...

014/366 - Carne de segunda

Não é porque hoje é segunda de Carnaval e lá fora Bell Marques me pede para dizer que o amor valeu, não é porque ontem eu fui à praça principal de Itapetim e só voltei hoje, segundas são sempre segundas, mesmo as de Carnaval. Biblicamente o sábado é o sétimo dia. Dia reservado ao Senhor. Então domingo é o primeiro dia da semana, inútil como a segunda. Consideramos a inutilidade dos dias pela falta do que fazer neles, imposta a nós pela falta de dinheiro. Só me resta o descanso eterno. Mas como foi que Deus descansou no sétimo dia, se a semana ainda não tinha sido criada? Rotsen Alves Pereira Fevereiro de 2024

013/366 – O rei da selva (de pedra)

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Estes dias li na página 370 léguas a postagem “O leão inútil ou o homem moderno”. O autor fazia analogia entre os homens modernos e os leões, eu não precisaria dizer isto, já que o título entrega a obra. Quando obrigado a ver documentários sobre a vida selvagem na savana, sempre me perguntava, porque este título de rei da selva? Também não sei porque dizem que a maçã é a fruta do amor e do pecado. É claro que esse título pertence a pera, fruta suculenta, de pele fina e macia, cheirosa. Pomba branca símbolo da paz, a ciência já provou que os pombos são ratos de asas, transmissores de todo tipo de parasitas e doenças. Não temos necessidade de símbolos da paz, mas de paz. O leão é um animal político. Não trabalha, não protege os filhotes e muito menos as leoas. Seu único objetivo na vida e se manter no trono. E quando um outro leão toma o poder, mata os seus futuros opositores, os filhotes machos. Se as leoas tivessem acesso a inseminação artificial ou a outra forma de reprodução, os le...

012/366 - Minhas namoradinhas

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Vinte oito de janeiro de dois mil e vinte quatro, como de costume aos domingos, fui trabalhar no Balneario Recanto do Matuto . E lá arrumei uma namoradinha, 84 aninhos. Mas antes de falar da conquista de hoje, quero fazer aqui uma declaração de amor a algumas destas namoradinhas que estão na minha vida. Gercina, 78 aninhos, minha sogra, que eu amo abraçar e fazer cosquinhas até ela revidar, enquanto diz: “Rotsen, Rotsen...”. Amo muito. Adelia Ferreira , 86 aninhos, mãe de Vanda Ferreira e Wanderley Carlos , avó de Kássio Ferreira e Kaio Guilherme . Não se vai a casa de Adelia sem tomar um cafezinho e comer uns biscoitinhos. Eu e minha esposa tivemos o prazer de lhe proporcionar assistir a um show do Amado Batista. Amor de pessoa que me chama de Robson. Agora falemos da namoradinha deste domingo, Maria Fonseca. Ela já tinha ido ao Recanto uma primeira vez e nos demos super bem. E hoje, tomei a iniciativa, perguntei se ela queria namorar comigo. Ela disse: “Dez horas da manhã e você ...

011/366 – Memórias crônicas

Dia destes estava me perguntando se o que escrevo são realmente crônicas. Ana Paula Ibrain me fez ver o que podem ser, memórias. Sim, meus textos têm muito de memórias. Mas sendo eles crônicas ou não, não é uma coisa que me tire o sono, é só que quem escreve vive a se questionar. Preocupações com títulos, gêneros literários, se o que faz é literatura ou pelo menos algum tipo de arte. O texto de hoje só tem de bom o título, “Memórias crônicas”. Pode vir a ser o título quando eu reunir minhas crônicas em um livro. Outro título bom para a reunião de meus textos é “Crônico”, ambos inspirados em minhas conversas com a amiga Ana Paula Ibrain . Em latim existia a palavra “chronica”, para designar o gênero que fazia o registro cronológico dos acontecimentos históricos, sem aprofundamento ou interpretação. Na mitologia grega temos Cronos, deus do tempo. Talvez o que eu escreva sejam só reminiscências, mas isto não é importante, não o suficiente para que eu fique aqui esquentando meus cornos. Ro...

010/366 – Não esqueça a minha Caloi

Primeira bicicleta de marcha a ser produzida no Brasil a partir do ano de 1972, a “Caloi 10” é uma bicicleta própria para corrida, mas que ficou popular entre o público em geral. Na segunda metade dos anos 80 eu comprei uma “Caloi 10” de segunda mão, para ir da Lapa onde morava, até o trabalho no Largo do Machado. Essa é a décima crônica e sinto que estou fazendo alguma coisa aqui, ainda não sei bem o que, mas sinto que estou fazendo algo. Ano passado, com projeto semelhante, sofri ao perceber que não chegaria nem perto das 365 crônicas que pretendia. Mas este ano estou tranquilo, mesmo sabendo que não vou conseguir escrever as 366 crônicas deste ano bissexto. Acabou que a “Caloi 10” ficou lá, encostada num canto. Então decidi levá-la para a casa da minha mãe. Até aí tudo bem, não fosse o fato de minha mãe morar em Santa Cruz, bairro da Zona Oeste do Rio, distante cerca de 60 quilômetros do Centro do Rio, onde eu morava, e o pior, eu decidi levar a bike pedalando. E num dia de folga n...