Universo Cômico

A minha pequena Itapetim, no sertão de Pernambuco, está em rebuliço por conta da lista dos “mais besta” do município. Duas listas, de autoria anônima, divididas por gênero, com quase oitenta nomes cada, circulam nas redes sociais, e, em plenas festas juninas, alguns daqueles que tiveram seus nomes listados querem malhar o Judas, quero dizer, o autor, coisa que só se faz na Quaresma. A lista não poupou ninguém, de cantor mirim com repertório ‘sertanejo', até aqueles que ficam besta quando bebem e outros que são bestas sóbrios, se estendendo a algumas figuras do município vizinho, São José do Egito. Nem os falecidos escaparam.  A lista de Itapetim ganhou status de seleção brasileira de futebol, há críticas a nomes escolhidos e sugestões de nomes que deveriam ser convocados. Entre risos dos que ficaram de fora, indignação dos que foram chamados, não se fala em outra coisa na cidade. Itapetim, ventre imortal da poesia. Onde todos se tratam por poeta. Onde há a tradição, uma brincadeira...

Adultos brincam de quê e com o quê? Alguns homens colecionam carros e outras coisas; certas mulheres têm coleções de bonecas ou flores secas em páginas de livros. Há também os brinquedinhos sexuais, indo até as práticas de BDSM*, temos os robôs sexuais e aplicativos de companheirismo com figuras de IA. Hoje, as mulheres com seus bebês reborn, e há muito, os homens com suas bonecas infláveis. Não estamos vivendo a pior fase da sociedade, só a mais “documentada” pelos smartphones. As sinopses dos filmes futuristas normalmente começam assim: “Numa sociedade distópica…”. Como se vivêssemos numa sociedade utópica. A sociedade ontem, hoje e amanhã será sempre terrível, opressiva e desumana. A distopia de nossa época é que estamos brincando de ser adultos, as novas tecnologias formam jovens infantilizados e infantilizam adultos.  Máquinas cada vez mais humanas e humanos cada vez mais autômatos. O discurso de que o uso de máquinas melhora a vida das pessoas só serve para o dono da máquina,...