A torre da igreja - sinopse

“A torre da igreja de São Pedro pode ser vista de todos os pontos da pequena Itapetim. Como de costume, Águida passeia com sua filha Lory na praça Rogaciano Leite, a praça principal da cidade, que fica em frente a igreja. Ali perto, seu pai conversa com os amigos. A pequena Lory, de cabelos ruivos, iguais aos da mãe, sobe a escadaria que leva à porta da igreja. A mãe a segue, atenta e cuidadosa. Na porta aberta da igreja a menina para e se volta para a mãe, dá um grande sorriso. Aquele sorriso nas crianças que precede uma corrida e que parece dizer, nem me pega. Lory dispara igreja adentro pelo corredor central. Águida corre atrás dela, mas na porta estanca, dentro da sua cabeça a voz enérgica da mãe ecoa: 

- Não entre naquela casa! A Casa do Senhor é outra. 

Lory parou no meio do corredor da igreja, se voltou e sorriu, um sorriso de espera, um convite. Com passos lentos e inseguros, Águida entrou na igreja. Ela e a filha na nave vazia. As laterais dos bancos decorados com flores e laços para um casamento. Os vitrais das janelas cheios de cores. Toda uma luminosidade e frescor de temperatura. 

Lory parou no meio do corredor da igreja, se voltou e sorriu, um sorriso de espera, um convite. As pernas de Águida falharam, ela se ajoelhou na entrada da igreja e sentou-se sobre as pernas. Lory caminhou até o padre que estava pregando no início do corredor. A igreja cheia. Ele segurou a mão da menina e sem deixar de pregar caminhou com ela até Águida.

- Não entendi, afinal, você entrou ou não na igreja? - pergunta a recepcionista do hospital municipal  onde Águida é enfermeira.

- Não sei… não sei explicar - sussurra Águida - Não sei nem como cheguei em casa. Quer dizer, meu pai me levou. 

- Mas que história é essa de duas versões para o mesmo fato?

- Não sei, não consigo entender nada e nem a mim mesma. As duas lembranças são muito vívidas na minha mente. As duas parecem ter acontecido. 

- Seu pai não te disse se você entrou ou não na igreja ontem?

- Não, ele estava longe. Tudo que me disse é que as pessoas disseram que eu passei mal na porta da igreja. 

- Tá, vamos deixar essa parte para depois. Deixa eu ver se entendi, sua mãe, desde que você era pequena te proibiu de entrar na igreja de São Pedro, é isso? 

- Sim.

- E você nunca entrou naquela igreja?

- Não.

- Nunquinha?

- Não, já disse que não. Durante toda a minha vida nunca entrei lá.

- E porque sua falecida mãe fez isso?

- Não sei. Antes eu me preocupava com isso. Depois deixei para lá e já nem me lembrava mais. Agora, depois de ontem, estou sendo consumida por isto.

- Que trauma esse seu, hein? Sua mãe deve ter lhe imposto um terror e tanto quando você era pequena.

- Eu não lembrava mais do peso dessa proibição. Mas agora, o que estou sentindo é pior do que no tempo em que eu era criança. Ou talvez o sentimento que estou experimentando fosse tão ruim naquela época quanto é agora, sei lá. 

- É minha amiga, o jeito é você descobrir por que sua mãe lhe proibiu a vida inteira de entrar na igreja. E também se consultar com um psiquiatra, já que está vivendo realidades paralelas. Não sabe se entrou ou não na igreja - a recepcionista se levanta de sua mesa, pega uma pasta  - Agora deixa eu levar isto para o médico - e sai da sala, deixando Águida afundada em suas dúvidas e confusão mental.”


* * *


Assim começa o drama de Águida, nossa heroína. Atingida por uma proibição de infância como quem recebe um soco no estômago ou a pancada do bumerangue no seu retorno. A história se passa nos dias atuais, remontando aos dias da mãe e da avó de Águida. Tendo como cenário Itapetim, município de cerca de 14 mil habitantes no sertão de Pernambuco, que carrega o título de “ventre imortal da poesia”. E com razão, pelas ruas desta cidade se espalham poetas, cantadores e declamadores.  No melhor estilo da oralidade cultural nordestina. Lugar onde carros de bois que transportam areia e carroças puxadas por burros apinhadas de capim convivem harmonicamente com os Corollas e Renegades. Tudo isso sob a sombra invisível da torre da igreja de São Pedro, epicentro da cidade e desta história. “A torre da igreja" é a história de Águida, uma mulher ruiva, mãe de uma menina ruiva, filha de uma mulher ruiva, descobrindo seu passado e a história da sua família. 


Assolada com a mesma força que a oprimia na infância, ela é impelida a finalmente buscar resposta para o comportamento da mãe. Nesta busca vai descobrir o preconceito ao fato das mulheres de sua família terem cabelos ruivos, “da cor das chamas do inferno". Vai descobrir que seu pai e sua mãe estavam destinados a serem padre e freira. Vai entender porque seu pai não mantém relações com a mãe, Teresa, mulher rica, religiosa, poderosa e irmã do padre da época em que seus pais se conheceram. Pivô de alguns episódios no passado, inclusive o pior deles, cortar os cabelos  da nora enquanto ela dormia.  


A  mãe de Águida  poderia ter deixado os cabelos crescerem e esfregado na cara da sogra os longos cachos “da cor das chamas do inferno”, ao invés disso, fez uma promessa de não mais exibir seus cabelos ruivos e passou a usar uma peruca de cabelos pretos. E agora, depois de descobrir as razões que afastaram sua mãe da igreja católica e a tornaram uma evangélica,  Águida está diante do diário de sua mãe, diante do  pacto da mãe com Deus, o Deus vingativo do Velho Testamento. Diante do que a mãe pediu em troca da sua promessa. Ela não tem nenhuma responsabilidade com a obrigação da mãe. Então, será Águida capaz de ser o instrumento de Deus para a execução da vingança da mãe contra a sogra, contra a própria avó? 

Religião, poder, preconceito e vingança. Acompanhe Águida nesta jornada de descoberta do seu passado e de si mesma. E por fim,  da descoberta de Águida do que ela própria  é capaz. 


* * *


“Águida, o pai e Lory no seu passeio costumeiro na praça. Ao contrário do que sempre acontece, seu pai está sozinho, sentado no longo banco de mármore que serpenteia os jardins. Os amigos do pai em pé, formam um grupo a certa distância dele e conversam. Águida pastoreia a filha. Lory sobe os degraus da igreja e Águida atrás. As pessoas agrupadas na escadaria, antes de entrarem para a missa, se afastam diante da aproximação de Águida. Na porta aberta da igreja Lory para e olha para a mãe.

- Quer entrar filha? - pergunta Águida.

- Não precisamos mamãe - responde Lory.

É, não precisamos, pensa Águida, entendendo agora porque a mãe sempre a quis longe dali. Local de más lembranças para a mãe, mas também o local onde ela encontrou o seu primeiro e único amor. Nada é totalmente bom ou totalmente mal, em tudo há dois lados, inclusive em nós, seres multifacetados. Águida e a filha voltam à praça. Lory dá voltas em torno da mãe. Águida solta os longos e ruivos cabelos como nunca fez antes. Resgata o pai isolado e ainda sentado no banco e os três descem a praça, sob o burburinho dos presentes. 


Fim.”



* *    *


Sinopse enviada para a primeira fase do concurso literário do aplicativo TikTok.


Itapetim, Pernambuco, agosto de 2025


Rotsen Alves Pereira

Autor


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A torre da igreja

018/366 - Um homem bi-centenário

010/366 – Não esqueça a minha Caloi