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Mostrando postagens de outubro, 2024

018/366 - Um homem bi-centenário

Está cada vez mais difícil exercer minha generosidade. Generosidade, esta coisa de dizer a que gênero pertenço. Preenchendo um formulário, por eliminação, me defini como “homem cisgênero”. As outras opções eram: mulher cisgênero, mulher transgênero, homem transgênero, pessoa não binária, não informar e não sei informar. Esta última opção eu que acrescentei.  Não sou contra as ações de afirmação, todo o gênero humano tem o direito de se afirmar como se sente e não ser discriminado por isso. Eu pertenço ao gênero duvidoso, estou sempre em dúvida. Dias desses, minha irmã Joana D´arc,  lendo algo que lhe enviei e pedi que opinasse sobre, me disse que não se usa mais a palavra denegrir com sentido pejorativo. A militância exagera.  LGBTQIAPN+*, esta sigla só cresce, sugiro trocar o + pelo símbolo do infinito. Quando eu era gay, existia também o gênero simpatizante. Por parte dos grupos e instituições, há uma  busca impossível de ser atingida, a de abarcar a todos. Sempre haverá um militante

017/366 - Quero ser Arnaldo Antunes

Em 1999 foi lançado o filme “Being John Malkovich”, aqui ganhou o título de: “Quero ser John Malkovich”. Apesar do meu amor por Malkovich, amor que nasceu em “Ligações Perigosas”, e também do meu amor por Cusack, nunca vi o filme. A sinopse do filme diz que o personagem de Cusack descobre uma passagem para a mente de John Malcovich, onde se pode passar 15 minutos vendo o mundo sob a perspetiva do famoso ator. Bem, toda esta lenga-lenga para explicar de onde tirei a ideia e o título da minha crônica. Eu quero ser e sou muitas coisas. Sou o sorriso malicioso e sedutor de canto de boca de Malkovich. Sou o andar malemolente de Denzel. Queria que meu quengo careca fosse bonito como o de Stathan. Sou o sorriso cínico e debochado de Willis. O serpentear de Axl. A cegueira de Ray e os passos de Brown em “Sexmachine”. Sou a homossexualidade da Rainha Freddie e o agudo do Dalto, “Muito estranho”. No poster do filme tem uma pergunta: “Você já quis ser outra pessoa?”. Quem não? Acho que todo mund

016/366 - Intervenção bacana

Crônica escrita a partir da imagem da faixa branca na borda de uma rodovia, que se desvia de umas folhas de coqueiro.  Quando vi a imagem, razão desta crônica, numa postagem no Facebook, ‘printei’, ela tinha me intrigado. A foto era acompanhada da seguinte legenda: “A minha função é pintar. A limpeza é trabalho de outro departamento”. Tempo depois fiz um story e substitui a legenda na foto por outra que diz: “Ponha arte em tudo que faça”. Minha esposa disse: “Arte nada, preguiça, preguiça de limpar”. Pelo que observei há alguns dias aqui na minha Itapetim, essas faixas são feitas por um caminhão, que tem acoplado a ele um bico ejetor que pinta todo tipo de linha no asfalto, brancas, amarelas, vermelhas e azuis. Paralelas, continuas, tracejadas, faixas de trânsito que transmitem regras. Mas o que terá levado o artista a executar sua obra de arte? Será que a concebeu antes? “O dia que eu encontrar as folhas longas de um coqueiro, dormindo mortas as margens da estrada, não perturbarei

015/366 - Eduarda e Vitor

Era uma vez, Maria e João. Eles são duas crianças. Maria tem dois pais e uma mãe. João tem um pai e uma mãe. Não, nesta história não tem madrasta má, mas tem um padrasto mau, esse que vos escreve, mau que nem pica-pau. Maria e João trilharam inúmeros caminhos em busca de doces. Depois de saciados, ou quando se achavam perdidos, retornavam para suas casas. Não sei quando foi que seus caminhos se cruzaram, se numa dessas idas, cheios de certezas, atrás dos doces, ou se foi quando retornavam satisfeitos, ou desapontados, famintos de "comida de verdade". Só sei que foi assim, seus caminhos se cruzaram. João faz UERJ. Maria trabalha em telemarketing. Maria sempre quis ter um cachorro, João tem o Judá, um golden. João anda de moto, Maria fala em tirar a habilitação, e os dois andam de skate na Praça do O. João sabe inglês e espanhol, e Maria Duolingo. Maria tem uma máquina de costura, mas também tem uma Canon ‘profissa’. “E mesmo com tudo diferente, veio o medo de repente, uma vont

014/366 - Carne de segunda

Não é porque hoje é segunda de Carnaval e lá fora Bell Marques me pede para dizer que o amor valeu, não é porque ontem eu fui à praça principal de Itapetim e só voltei hoje, segundas são sempre segundas, mesmo as de Carnaval. Biblicamente o sábado é o sétimo dia. Dia reservado ao Senhor. Então domingo é o primeiro dia da semana, inútil como a segunda. Consideramos a inutilidade dos dias pela falta do que fazer neles, imposta a nós pela falta de dinheiro. Só me resta o descanso eterno. Mas como foi que Deus descansou no sétimo dia, se a semana ainda não tinha sido criada? Rotsen Alves Pereira Fevereiro de 2024